EDITORIAL JORNAL DE CÁ, OUTUBRO 2014
Comecei há trinta anos a escrever este editorial. As primeiras letras surgiram quando subi uma
escada íngreme que dava para um corredor onde, em diversas salas se produziam jornais. Eu
nessa época sabia, claro, o que era um jornal. Mas não fazia a menor ideia de como um jornal
era feito. Foi nesse edifício no Dafundo, em Lisboa, que o meu curso de jornalismo começou.
Eu era o estagiário de um pequeno jornal que com a minha contratação dava um passo em
frente: até ali era feito por uma pessoa, a diretora, redatora, paginadora, secretária
telefonista, relações públicas. Trinta anos e muitos jornais e revistas passados, volto a cruzar-
me com uma pessoa que à força de tenacidade, alguma teimosia e uma forte vontade de
vencer pôs de pé um projeto arrojado como é a revista DADA e o conduziu durante sete anos
até ao sucesso que hoje todos reconhecem. Falo da Fátima Rebelo, publisher do Jornal de Cá,
com quem em acaloradas discussões, em horas de dúvidas, em momentos de euforia cheguei
ao entendimento de que o passo que devíamos dar a seguir era lançar um jornal no concelho
do Cartaxo. Aqui viveram os nossos pais e avós, aqui vivemos com as nossas famílias. É aqui
que queremos trabalhar. E porquê um jornal? Porque é o que sabemos fazer. Soubéssemos
cozinhar a teríamos aberto mais um restaurante. Mas não. Temos esta mania de ligar as
pessoas através da palavra, ligar as ideias através de pessoas, ligar os factos através da sua
circulação por todos. Só podíamos fazê-lo com um jornal. Depois desta decisão veio o período
de espera pelo milagre que nos permitisse avançar. O milagre chegou até nós através de um
grupo de amigos que acreditou em nós. Um grupo a quem estaremos para sempre
reconhecidos pela confiança que em nós depositaram. Um grupo que nos deixou fazer o nosso
trabalho e trazê-lo até este número 1, conscientes que somos uns ingratos e que desde o
primeiro minuto o nosso olhar e as nossas preocupações já não lhes pertenciam. A partir da
primeira letra que escrevemos é para os leitores que vão todos os nossos cuidados. Queremos
neste número 1 deixar bem claro que para nós só há um interesse superior: o de quem nos dá
a honra de nos preferir e de nos ler. Este não será nunca um jornal de interesses mas um jornal
de leitores. Obrigado por apostarem em nós e sobretudo, obrigado por nos lerem.
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