segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Um Amor Eterno

Este mês a minha mãe tinha um enorme problema para resolver: as ossadas da minha avó iam ser levantadas e ela, com a tensão a subir feita doida, solicitou-me que a acompanhasse. E eu, pouco dado a estas tarefas (a minha avó detestava este tipo de coisas) lá fui até ao cemitério do Lumiar no dia e hora marcados. Agora imaginem lá quem é que acompanhou o senhor Victor (o sr. Victor é o funcionário do cemitério destacado para o serviço e até já sei que tem uma tia no Cartaxo, boa gente podem crer) na tarefa? Eu pois claro, que a dona Ju não se sustinha nas pernas e o coração não estava a aguentar.
Não vos explico todos os passos que são dados e salto já para o momento em que as ossadas da minha avó se juntaram, numa urna, às do meu avô. Não é que, no meio daquele espaço tão carregado de emoções contraditórias, me foi dado presenciar um dos mais belos momentos de amor da minha vida?
Nascimento de Jesus, assim se chamava a minha avó, e Arlindo, o meu avô, estiveram vinte anos separados. Vinte anos até que as suas ossadas finalmente encontraram o caminho um do outro. E ali, literalmente pela minha mão, os meus avós voltaram a namorar. A entrelaçar as suas vidas, ou o que resta delas, numa comunhão que ambos cultivaram em vida. De tal forma que, na morte, só o tempo, uns miseráveis vinte anos, os conseguiu separar. De resto ali estão eles. Casados de novo, o meu avô e a minha avó, que além de se voltarem a unir, com a minha benção, voltaram a exercer o seu estatuto de avós: dar exemplo aos netos. E dei por mim a discorrer sobre a dificuldade que, nos nossos dias, encontramos para partilhar a nossa vida com outra pessoa. E dei por mim a pensar na felicidade destas duas extraordinárias pessoas que foram os meus avós. Partilharam toda uma vida e juntaram-se para a eternidade. Aqui está uma coisa que não me vai acontecer. Nem para viver comigo aqui encontro alguém com paciencia, quanto mais para repartir uma urna exigua para a eternidade. Que felicidade a vossa Nascimento e Arlindo. Nem sempre se encontram companheiros assim. Nem amores como o vosso. Divirtam-se agora que estão de novo juntos. Gostei muito de assistir ao vosso reencontro.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Eternamente

“...E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.” (M.S.T.)

Bom se me permite o meu nobre amigo virtual, deixe-me q opine sobre o seu texto/testemunho de amor eterno o que aparece como contrasenso da vida terrena... Enfim, parece-me uma conotação exacerbada atribuida aos restos mortais, ou seja, sem querer julgar o que gostaria de partilhar é que não estiveram de todo 20 anos separados...apenas afastados, cujo amor não voltou a unir, pq restos mortais são apenas isso... Ainda sonho que o verdadeiro amor seja isso mm... além mundos, realidades e materialismos;-) Sim sou crente...lol
Ps: abençoados os profundos Olhos d'alma!!! Bjs (mtos)

12:15 da manhã  

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