quarta-feira, abril 26, 2006

De onde me chegam estas palavras

Chegam-me do poeta preferido da pessoa mais importante da minha vida: Joaquim Pessoa. Escreveu as palavras que eu nunca saberei escrever. E mesmo que soubesse não iriam alterar o rumo do desamor e da indiferença porque melhor que saber escrever é saber amar. E isso eu tenho feito muito mal toda a vida. Aqui fica o poema do Joaquim (que nunca te saberei escrever mas não posso deixar de te oferecer), com amor.


Nunca houve palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto doía no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.