sexta-feira, março 31, 2006

Mulheres

Um homem caminhava numa praia e tropeçou numa velha lâmpada.
Pegando nela, esfregou-a e... um génio saltou lá de dentro e disse-lhe:

"O.K.! Você libertou-me da lâmpada! Esqueça aquela história dos três desejos! Você tem direito a um desejo apenas e ponto final."
O homem sentou-se e pensou por um instante. Depois disse:
"Eu sempre quis ir aos Açores, mas tenho um medo enorme de voar. E no mar costumo ficar enjoado. Você poderia construir uma ponte até aos Açores, para que eu pudesse ir de carro?"
O génio riu muito e disse:
"Isso é impossível. Pense na logística do assunto. Como é que as colunas de sustentação poderiam chegar ao fundo do Oceano Atlântico? Pense em quanto betão armado. Em quanto aço. Em quanta mão-de-obra...Não, de maneira nenhuma! A ponte não pode ser! Pense noutro desejo..."
O homem compreendeu e tentou pensar num desejo realmente bom. Finalmente disse:
"Sabe... Eu fui casado quatro vezes e das quatro vezes me divorciei. As minhas mulheres sempre disseram que eu não me importava com elas e que sou um insensível. Então o meu desejo é que eu possa entender as mulheres; saber como elas se sentem por dentro e o que elas estão a pensar quando não falam connosco... Saber porque é que estão a chorar... Saber o que elas realmente querem quando não dizem nada... Saber como fazê-las, realmente, felizes!"
O génio deu um salto e exclamou:
"Mas que raio de sorte a minha!!! Queres o estupor da ponte com duas ou quatro faixas?"

terça-feira, março 28, 2006

Quase perfeito

Esta letra dos Donna Maria entrou directa na galeria dos poemas da minha vida. Leio-o e ouço a maravilhosa voz da Marisa Pinto, que um dia há-de ser (já é) uma das mais respeitadas vozes deste país. Leiam com atenção e se puderem vão ouvir os Donna Maria onde eles estiverem, por aí, a tocar.

Sabe bem ter-te por perto
Sabe bem tudo tão certo
Sabe bem quando te espero
Sabe bem beber quem quero
Quase que não chegava
A tempo de me deliciar
Quase que não chegava
A horas de te abraçar
Quase que não recebia
A prenda prometida
Quase que não devia
Existir tal companhia
Não me lembras o céu
Nem nada que se pareça
Não me lembras a lua
Nem nada que se escureça
Se um dia me sinto nua
Tomara que a terra estremeça
Que a minha boca na tua
Eu confesso não sai da cabeça
Se um beijo é quase perfeito
Perdidos num rio sem leito
Que dirá se o tempo nos der
O tempo a que temos direito
Se um dia um anjo fizer
A seta bater-te no peito
Se um dia o diabo quiser
Faremos o crime perfeito

Uma grande mulher

Não deixem de passar pelo C.C.B., a Frida Kahlo ("Vida e Obra", patente até 21 de Maio), é absolutamente espantosa... Pensem que ela nasceu em 1907 e pintou entre 1925 e 1954 ano da sua morte. Vejam a modernidade e a audácia da sua pintura. Esta mulher espantosa dizia, às vezes, nos intervalos do verdadeiro tumulto que era a relação amorosa dela com o pintor Diego Rivera, coisas para nos fazer pensar... Tomem nota:

"Sinto-me mal, e ficarei pior, mas vou aprendendo a estar sozinha e isso já é uma vantagem e um pequeno triunfo".
Frida Kahlo, na exposição patente no Centro Cultural de Belém

terça-feira, março 21, 2006

Prendas que o Francisco me dá...

Ninguém que me conhece tem dúvidas sobre a importância da Patrícia na minha vida e na dos meus filhos. Durante os quase cinco anos em que vivemos juntos ela foi a verdadeira mãe deles, sem nunca tirar o lugar nem permitindo que se minorizasse o papel da verdadeira mãe. Mesmo ao longo deste ano em que estamos separados a Patricia, que entretanto refez a sua vida com outra pessoa, se mantém próxima da Laura e do Francisco estando disponível para eles como uma verdadeira amiga que será para toda a vida.
Esta introdução serve para vos situar quanto ao estado de espírito do Francisco quando, no ano passado, meses depois de separado, arranjei uma namorada. Como é lógico, dada a relação próxima que os meus filhos mantinham com a Patrícia, a nova namorada não foi muito bem recebida. A Laura abriu-lhe guerra (eu disse guerra??, desculpem é uma private joke) declarada mas o Francisco, a pouco e pouco, tornou-se amável e até começou a socializar com a minha namorada. De qualquer forma a relação era a prazo e um dia, três meses passados, acabou. Para minha surpresa o Francisco recebeu a notícia com um "yuuuppiii" sonoro. Espantado perguntei-lhe porque é que estava tão contente, se ele até gostava dela. Com o seu arzinho de bebé o Kiko aninhou-se em mim e fez-me esta fantástica declaração de amor: "Oh pai, eu não gostava muito. Eu adoro a Patrícia. Mas sabes, como a Laura também não gostava dela eu comecei a aceitar porque acho que é muito aborrecido para o pai viver com dois filhos e os dois não gostarem da namorada do pai".
Agora sou eu que te tenho de dizer Francisco. Para um pai, aborrecido mesmo é não ter filhos como tu e a tua irmã.

A coragem do Francisco

O meu filho Francisco faz hoje nove anos. Chegou com a primavera à minha vida e tem, desde esse dia, alimentado a minha alma no contacto diário com o ser humano extraordinário que ele demonstra ser.
O Francisco é amado por toda a gente que se chega ao pé dele. Até irrita. É amado em casa, na escola, pelos amigos, educadores, pais de outros alunos. A popularidade do Francisco chega-lhe através da sua doçura e disponibilidade para os outros. Mas o meu Kiko é muito mais que um menino doce e preocupado com o bem estar dos outros. O meu Kiko é verdadeiramente um ser com muito mais idade e conhecimento do que o que os seus nove anos indicam.
No ano passado foi entrevistado para a revista Visão. O artigo era sobre a coragem e a psicóloga que o entrevistou perguntou-lhe para abrir: "Então Francisco, para ti, de onde nos vem a coragem?". Sereno, o Francisco levantou um pouco os ombros e respondeu como se não houvesse outra resposta possível: "A coragem? A coragem vem-nos do Universo". Que a Força esteja contigo meu filho. Parabéns e obrigado pela Primavera que trouxeste à minha vida.

quinta-feira, março 16, 2006

Vou estar sempre

Vais encontrar o meu nome, toda a vida,
impresso na pele de quem amares,
a vaguear por entre os lençóis
onde pernoitares.
Vais encontrar a escorrer
por entre os dedos
o mel do prazer que partilhámos.
Em todas as casas que habitares
vais encontrar-te com os objectos
em que tocámos,
os livros, as chávenas,
as almofadas, os pincéis,
as toalhas, a lenha, os poemas,
os CD’s, e os anéis.
Em todas as paixões que viveres
vais descobrir os momentos
que deixámos de partilhar
só para que o teu orgulho
pudesse deixar-te respirar.
Em todos os homens
vais descobrir-me,
porque sou um só
e esse é todos sem excepção.
Porque não há quem te possa
fazer feliz
a não ser quem entenda
a essência do teu ser, como eu.
Vais encontrar o meu nome toda a vida
impresso na memória da tristeza que te fiz sofrer,
a vaguear por entre as manhãs frias
em estações que não eram a tua
e onde nunca devias ter corrido
em busca
de um amor que não te merece.
Vais encontrar em todas as madrugadas
os sons do nosso amor,
quando abafávamos a voz
e estrangulávamos os sentidos
para não sermos descobertos
pelos frutos das nossas paixões.
Vais viver e sentir toda a vida
sob a pele e dentro de ti,
os dias que já não queres viver,
em noites de delírio
para as quais te esqueceste
de me convidar.

quarta-feira, março 08, 2006

Teatro ficou mais pobre

Morreu Sérgio de Azevedo, um dos maiores empresários de teatro portugueses. Um homem de grande visão, empreendedor, arrojado, honesto. Os seus espectáculos e o grande contributo para a renovação da revista à portuguesa fazem dele um nome incontornável do Teatro comercial português, nas décadas de 70, 80 e 90 do século passado. A Sérgio de Azevedo se deve a criação do primeiro (e acho que único) café concerto a sério a funcionar em Lisboa, o célebre e delicioso Frou-Frou, onde anos mais tarde acabaria por funcionar o bingo do clube de Alvalade e que está, agora, fechado e abandonado mesmo ali junto ao Campo Grande. Foi também Sérgio de Azevedo quem apostou num rapazinho louro de olhos azuis, que lhe foi apresentado pelo Pedro Osório. O rapaz chama-se Herman José e a revista, Pides na Grelha, que subiu ao palco do ABC em 1974, foi a sua estreia em teatro. Muitas outras revistas que produziu, como É o Fim da Macacada (1972), Pró Menino e Prá Menina (1973) ou Uma no Cravo, Outra na Ditadura, foram enormes sucessos de bilheteira. Grande e ruinosa aposta foi a que Sérgio de Azevedo fez no musical Annie (1983) do qual só recuperou financeiramente em 1990, ano que produz A Severa. Recordo uma entrevista que me deu na época, publicada no Correio da Manhã, da qual retenho o seu amor ao teatro e o carisma e audácia como empresário. Faleceu aos 69 anos vitima de um cancro no pulmão. O teatro português perdeu um amigo e ficou de certeza mais pobre.

domingo, março 05, 2006

Afinal...

Afinal nós estamos fartos
é de ser mal amados.
É por isso que as nossas mãos
se tocam quentes e ávidas
e as nossas bocas
se encontram em madrugadas frias.
Afinal nós estamos fartos
é de deixar os nossos corpos
serem explorados por quem não
os quer percorrer.
É por isso que nos tocamos
com volúpia
e a nossa pele se encontra
a meio caminho da loucura.
Afinal nós estamos fartos
é de nos oferecermos
por inteiro e ficarmos
sempre a perder.
É por isso que nos devoramos
com paixão
e o nosso prazer transborda
das paredes transparentes
do quarto onde nos amamos.
Afinal nós estamos fartos
é de ter os pés assentes na terra
e nunca sentirmos
o vento a soprar-nos no rosto.
É por isso que nascemos
Com asas e voamos
para lá da imaginação
sem perguntar um ao outro
onde fica o destino
nem a rota da viagem
que nunca mais queremos terminar.

Diz-me, meu amor

Diz-me onde me queres
e eu lá estarei
para te amar.
Diz-me o nome da estrela
de onde te chega a luz
ao olhar
e eu lá irei colher os primeiros
raios da alvorada.
Diz-me onde nasce a fonte
de onde brota a água
da tua boca
e eu lá mergulharei
para me banhar
na frescura do teu beijo.
Diz-me onde se aquece
a chama do teu prazer
e eu lá irei acender
o meu corpo no calor
do teu desejo.
Diz-me onde está a árvore
que alimenta a seiva
do teu corpo
e eu lá irei beber
o néctar da tua paixão.
Diz-me onde me queres
amor,
diz-me os segredos da tua noite
e eu lá deixarei repousar
os meus medos
por entre a ternura suave do teu abraço.
Diz-me onde me queres
porque irei esperar-te
sem receio de te perder
e lá estarei para te amar.