segunda-feira, fevereiro 27, 2006

No Teu Olhar

Foi no teu olhar,
visitado pela penumbra
da manhã,
que senti
o toque suave
das asas
do destino,
naquele segundo
em que te fizeste
menina
e te ofereceste
à loucura do meu amor,
naquele instante
em que me envolveste
no teu abraço
e me fizeste entender
a distância absurda
entre estarmos sós
e voarmos
a dois pelo universo.
Foi no teu olhar,
embalado pela magia
do pensamento,
que senti
o toque suave
das asas do destino.
E o tempo parou ali,
a olhar para nós
num voo lento
de paixão,
enquanto o mundo
se consumia
perplexo,
e nada mais restava
lá fora
se não a memória
dos dias que esquecemos.
Foi no teu olhar,
iluminado
pelo fogo da tua alma,
que senti
o toque suave
das asas do destino.
E comecei a voar...

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Um grande musical a não perder

Ali na Toyota Box, que raio de nome para um espaço fantástico, junto às Docas, está em cena aquele que é realmente o primeiro grande musical português destinado a uma geração que cresceu a ouvir Xutos, teve amigos que morreram agarrados a uma seringa e outros que partiram por não suportar o peso deste crescimento acelerado e descontrolado. Depois sobrámos nós... que estamos ali retratados, cantados, dançados, representados por uma dúzia de criaturas cheias de talento e vontade de fazer em Portugal espectáculos tão bons como os que se fazem por esse mundo fora. Martinho Silva é um dos actores (e canta, dança, salta, representa... um show dentro do espectáculo), Paula Teixeira uma das cantoras (é outro espectáculo aquela voz). Não sei os nomes do resto do elenco mas mal saiba venho aqui postá-los. Renato Jr. é o director musical. Estes são os meus amigos... lol. Dos que não conheço posso nomear o Eduardo Madeira que escreveu aquele texto genial e o António Feio que fez uma das mais modernas encenações que já vi em Portugal. E depois é Xutos e Pontapés do princípio ao fim. Toda a carreira está lá... mais o tema "Sexta-Feira 13" que dá nome, e foi escrito de propósito, para este espectáculo. Não percam. Quem vos avisa...

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Um Amor Eterno

Este mês a minha mãe tinha um enorme problema para resolver: as ossadas da minha avó iam ser levantadas e ela, com a tensão a subir feita doida, solicitou-me que a acompanhasse. E eu, pouco dado a estas tarefas (a minha avó detestava este tipo de coisas) lá fui até ao cemitério do Lumiar no dia e hora marcados. Agora imaginem lá quem é que acompanhou o senhor Victor (o sr. Victor é o funcionário do cemitério destacado para o serviço e até já sei que tem uma tia no Cartaxo, boa gente podem crer) na tarefa? Eu pois claro, que a dona Ju não se sustinha nas pernas e o coração não estava a aguentar.
Não vos explico todos os passos que são dados e salto já para o momento em que as ossadas da minha avó se juntaram, numa urna, às do meu avô. Não é que, no meio daquele espaço tão carregado de emoções contraditórias, me foi dado presenciar um dos mais belos momentos de amor da minha vida?
Nascimento de Jesus, assim se chamava a minha avó, e Arlindo, o meu avô, estiveram vinte anos separados. Vinte anos até que as suas ossadas finalmente encontraram o caminho um do outro. E ali, literalmente pela minha mão, os meus avós voltaram a namorar. A entrelaçar as suas vidas, ou o que resta delas, numa comunhão que ambos cultivaram em vida. De tal forma que, na morte, só o tempo, uns miseráveis vinte anos, os conseguiu separar. De resto ali estão eles. Casados de novo, o meu avô e a minha avó, que além de se voltarem a unir, com a minha benção, voltaram a exercer o seu estatuto de avós: dar exemplo aos netos. E dei por mim a discorrer sobre a dificuldade que, nos nossos dias, encontramos para partilhar a nossa vida com outra pessoa. E dei por mim a pensar na felicidade destas duas extraordinárias pessoas que foram os meus avós. Partilharam toda uma vida e juntaram-se para a eternidade. Aqui está uma coisa que não me vai acontecer. Nem para viver comigo aqui encontro alguém com paciencia, quanto mais para repartir uma urna exigua para a eternidade. Que felicidade a vossa Nascimento e Arlindo. Nem sempre se encontram companheiros assim. Nem amores como o vosso. Divirtam-se agora que estão de novo juntos. Gostei muito de assistir ao vosso reencontro.

domingo, fevereiro 19, 2006

A Abadia e as pataniscas da Silvia

Além de ser um dos fotógrafos portugueses que mais admiro, o Rui Vasco é um bom amigo e um grande ser humano. A mim está farto de dar lições de vida. E também lições de bem viver. Um dos prazeres do Rui é a boa mesa. Foi assim que um dia em que estavamos na Figueira da Foz, me levou ao Carocel da Bebé. Da Bebé e do seu Carocel de prazeres gastronómicos hei-de falar-vos um dia destes. Num outro dia, no Porto, o Rui Vasco levou-me à Abadia. E eu fiquei rendido. A Abadia fica ali no centro da cidade, entre o Coliseu o Magestic e o Sá da Bandeira, à beira de Santa Catarina. O meu primeiro petisco na Abadia foram as pataniscas. Maravilhosas. Já lá voltei várias vezes. Os empregados já sabem o que como e o que bebo, já me conhecem as pequenas manias. Por isso, quando há semanas estive no Porto com a Silvia e o Pedro Reis, fiz questão de os "desviar" para a Abadia. Para meu espanto, a Silvia provou as pataniscas e aproveitou logo para fazer publicidade das suas próprias qualidades: "são boas mas tens de comer as minhas", afirmou com aquela presunção que estamos habituados a ver nos amigos que gabam os seus próprios dotes culinários. E eu quase nem liguei. Só que hoje provei mesmo as pataniscas da Silvia. Meus amigos da Abadia vão ter de me desculpar, e acreditem que não deixo de ser cliente, mas vocês não sabem nada de pataniscas. Rui Vasco, meu amigo, obrigado pela Abadia (e pela Bebé) mas agora sou eu que tenho de convencer a Silvia a passar uma manhã a cozinhar, para nós lá irmos a casa comer pataniscas a sério. Sim Rui, pataniscas, pataniscas são as da Silvia. Um dia destes ainda fazemos uma pratada delas e vamos direitos ao Porto para as comer com os nossos amigos da Abadia. Pelo menos nas pataniscas o campeonato desta vez vem para Lisboa. Obrigado Rui. E, sobretudo, obrigado Silvia. O Verão vai chegar e eu vou estar uma quantidade de pataniscas mais gordo. Grandes amigos que vocês são!

sábado, fevereiro 18, 2006

Nicotina e Erva-doce

Agora é que percebi que já não venho aqui há uma data de dias. Mas neste momento tinha de vir. Só para partilhar este sentimento com o mundo. Vocês têm noção do que é chegar às quatro da manhã, não ter tabaco e passar pela tristeza de andar a assaltar os cinzeiros para catar beatas? O que me vale é que a música é boa (Keit Jarrett a tocar coisas como o "Someone To Watch Over Me") e a companhia da Sissi, que é obviamente melhor que o Jarreth e a orquestra dele toda junta.
Agora digam-me lá se o Estado, em vez de pagar campanhas contra o consumo do tabaco, não fazia muito melhor se comparticipasse o tratamento aos fumadores para deixarem o vicio. Podiam até pagar uma sala de fumo ao lado de cada sala de chuto. Para mim deviam mesmo arranjar uns cigarritos de erva para nos distrair dos malefícios da malvada nicotina. Nem que fosse de erva doce que é coisa para nos deixar nas nuvens... doces como o algodão dos circos.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Porto na Alma

Escrevi este poema há alguns anos, dentro de um táxi, entre os Aliados e a Boavista... Eram 4 da manhã e saiu-me isto de rajada. Nem me parece grande coisa mas também ando a escrever tanto disparate que mais lixo menos lixo ninguém se ofende nem estranha. Veio-me à memória depois deste óptimo fim de semana no Porto.

PORTO NA ALMA
E as árvores
dos Aliados
que têm pássaros
pela noite fora?
E aquela saudade
que nos aperta
à chegada
que só apetece
ir embora?
Mas o Porto
é mesmo assim.
Tão absorvente
que se entranha
na alma da gente
e faz esquecer
a tal saudade
que a gente diz
que sente.
E as pessoas
de olhar tão diferente,
rudes no falar
mas gentis no trato?
E os empregados de mesa
que nos dizem
“bom apetite”
quando nos servem
o prato?
E os becos,
as esquinas,
as calçadas sombrias,
as madrugadas frias,
os passeios na Foz,
o jantar na Ribeira,
e o orgulho na voz de quem diz: “aqui à beira”.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Estou bem... no Porto

Fui ao Porto. Aquela cidade é mesmo outro universo. Pronto, têm lá o FCP mas também já não existem paraisos e em boa verdade ninguém é perfeito. Quanto ao resto, a cidade onde se deve viver é o Porto. Para mim tem sido o local onde as grandes lições me têm chegado. Um dia destes estive lá com uma amiga que recebeu uma mensagem a perguntar se eu "estava bem". Três meses mais tarde essa amiga está junto a mim, não comigo mas junto a mim, e recebe outra msg, da mesma pessoa que se tinha preocupado comigo no Porto, a que responde. E na resposta encerra o capítulo de maior sofrimento da minha vida. Na resposta a esta segunda mensagem a minha amiga acaba por dizer, três meses depois, que eu estou bem. Estou bem porque já não estou só. Tenho sempre, quando vou ao Porto, alguém que se preocupa comigo. Alguém que quer saber como eu estou. Estou bem meu amigo não precisas de te preocupar mais. O universo quando entra em efeito de Big Bang é verdadeiramente imparável. Sabias? Deves saber porque te vão mandando informações da Terra Mágica. Do Porto, pois claro.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Dança, Sexo e Coragem

Por diversos motivos que não vêm agora ao caso atravessei um período de algum descrédito nas capacidades do ser humano. Vi à minha volta muitos exemplos de mediocridade, desmérito, preguiça - fisica e intelectual - sem falar da confusão que anda por aí na cabecita de muito boa gente entre felicidade e realização sexual ou, melhor dizendo, entre confundir uma vida realizada com uma vida de caça sexual activa. A realização sexual é parte integrante da construção da felicidade mas não é exclusiva. E que é que isto interessa? Se calhar nada, mas a verdade é que afinal ainda há pessoas com capacidade de sonhar nesta terra. Pessoas que acreditam no acto criativo e no trabalho que é preciso desenvolver para chegar a esse acto. O sexo, por exemplo, pode ser encarado como um acto criativo para o qual é preciso trabalhar muito (não comecem no gozo por favor) de forma a torná-lo gratificante, preenchedor e atingir até o estatuto de arte com a exploração plena das sensações que nos proporciona.
Acreditar que em Portugal, em 2006, é possível fundar uma companhia de dança, que é possível dançar para tornar as outras pessoas mais felizes e até mais cultas e despertas, que é possível usar o corpo com imaginação de forma a transmitir sensações ao outro, é um acto de grande coragem. Eu conheço quem acredite nisto. Conheço quem aposte na cultura e na entrega a uma causa e a uma paixão. E estou muito orgulhoso de partilhar um pouco desta aventura.